Foto:
Jhon Huaman Canchanya
Foto: Carlos Grohmann
Colômbia: um
maravilhoso
carste
praticamente
desconhecido
Por Leda Zogbi
– Meandros Espeleo Clube
Já fazia um bom tempo
que ouvia falar da Colômbia: país desenvolvido, boa comida, preços razoáveis,
povo simpático... Mas foi quando o amigo Chico Bill (Prof. Francisco Cruz –
IGc-USP) me falou das cavernas daquele país é que atiçou de vez a vontade de
ir, e organizamos uma viagem no final de dezembro de 2011.
Os principais objetivos
da viagem eram: realizar um reconhecimento preliminar das cavernas da região
de Santander (centro-norte da Colômbia); estabelecer contatos para a promoção
de intercâmbio de informações e de colaboração entre espeleólogos brasileiros e
colombianos visando trabalhos futuros na região e coletar amostras de
espeleotemas para estudos sobre paleoclima realizados em uma parceria entre a
Universidade de São Paulo, Universidade de Medellín e o IRD – Institut de
Recherche pour le Développement. Este trabalho foi coordenado por Jean-
SebastienMoquet, que realiza seu pós-doutorado na USP na equipe de Chico Bill.
Quem nos levou às
cavernas foi Jesus Auderset, um Suiço-espanhol que adotou a Colômbia como
moradia. De Bogotá até a região das cavernas são apenas uns 300 quilômetros,
que representam cerca de seis horas de viagem pelo asfalto (muitas curvas e
caminhões na estrada) e mais uma hora e meia por uma estrada de terra terrível,
com trechos que despencaram em precipícios bem mais assustadores do que os do
Vale do Ribeira... Foi muito bom termos alugado um 4 x 4!.. Ficamos alojados
em um “campo base” organizado pelo Jesus, uma casinha muito simples – mas
aconchegante – ao lado de um maravilhoso paredão calcário. Além de dois
brasileiros, também participaram da expedição um francês, um peruano, um
suíço-espanhol e nove colombianos.
A espeleologia na
Colômbia está ainda em um estágio inicial. O grupo que participou dessa
expedição era formado por interessados oriundos principalmente dos esportes de
escalada em alta montanha, trabalhadores em altura e funcionários da Cruz
Vermelha colombiana. Todos possuíam equipamentos de exploração vertical mas
nenhum deles conhecia as técnicas de mapeamento em cavernas. Ficaram muito
interessados pela apresentação que fizemos sobre a espeleologia no Brasil, e
pela série de livros técnicos da Redespeleo que levamos para presentear o
Jesus. Também tivemos a oportunidade de realizar um mini-curso de topografia em
cavernas, que contou com a participação de seis colombianos, e juntos mapeamos
parcialmente duas cavernas.
Segundo Jesus, a região
de Santander permanece praticamente intocada, pois foi ocupada pela guerrilha
e pelos narcotraficantes, sendo então abandonada. Agora a região está
completamente dominada pelos militares, e o clima que observamos é bem
tranqüilo. O relevo é bastante irregular, calcário por toda parte... Para
chegar em cada caverna passávamos por 3 ou 4 abismos ainda inexplorados. Um
verdadeiro paraíso espeleológico! O terreno estava bem instável, com muita
lama, pois a época das chuvas acabava de terminar. Tudo muito verde, um
sobe-e-desce cansativo, mas vale o esforço!
A maioria das cavernas
visitadas tem grande volume interno e desnível acentuado. A predominância
local é mesmo de abismos, com poucos espeleotemas. Um dos abismos explorados
pelos colombianos atingiu 180 m de desnível. Mas existem também algumas
cavernas muito ornamentadas, como a Cueva Caracos, com áreas cobertas de helictites
brancas e amarelas, flores de aragonita, cortinas, enfim, uma grande qualidade
e variedade de espeleotemas. Lá puderam ser coletadas algumas amostras de estalagmites
necessárias para os estudos paleoclimáticos. Também vale citar a Cueva
Escuillas: uma gigantesca entrada dá acesso a um amplo salão inferior, onde
observamos uma grande quantidade de ossos humanos. Trata-se de um cemitério
muito antigo, possivelmente dos índios pré-colombianos (que habitavam a região
antes da ocupação espanhola). Segundo Jesus, a população local entra na caverna
para desenterrar os ossos à procura de jóias de ouro (na tradição antiga, os
mortos eram enterrados com suas jóias). Com isso, os túmulos continuam a ser
saqueados até o presente.
A viagem foi um sucesso:
os objetivos foram todos atingidos com pleno êxito, e voltamos com a certeza
de que essa não será a única viagem que faremos para a Colômbia, mas a
primeira de muitas! A região a ser prospectada e explorada é gigantesca, e
existe trabalho a ser feito para muitas gerações de espeleólogos.
Agradecemos
especialmente a maravilhosa acolhida que tivemos por todos os amigos
Colombianos, especialmente Jesus e Toya (organizadores da expedição), e por
todos os novos amigos colombianos que tornaram a nossa viagem inesquecível. Podem aguardar, voltaremos!
Equipe
expedição El Peñon, Colombia
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